Lorena Sotopietra Nolasco
“É verdade que quando estamos vulneráveis ficamos totalmente expostos, sentimos que entramos numa câmara de tortura e assumimos um risco emocional enorme. Mas isso não tem a ver com fraqueza.” Essas palavras, retiradas do livro A coragem de ser imperfeito, de Brené Brown (Ed. Sextante, 2013), soam como um revigorante gole de água num dia quente. Seria esse o motivo de me sentir linda e incrível quase todos os dias, no auge das minhas cinco décadas de vida? Pois então… Quando adolescente queria o mundo – e ele veio, meio sem avisar, por solavancos e conquistas. Foi quando, numa das brechas da vida, me senti vulnerável, muito vulnerável – e aí percebi a liberdade para agir e ser a mulher que sou.
A nostalgia é uma forma perigosa de comparação. Basta reparar quantas vezes pensamos “Ah, bons tempos!”. Perdemos tempo para usufruir o presente, e o presente é o melhor presente, pois é realmente o que vemos e sentimos.
Para algumas pessoas nunca serei boa, bonita e inteligente o bastante, mas cá entre nós, pra quê? Hoje quero praticar somente meus prazeres confirmados e esses me bastam. Se libertar do corpo perfeito, das escovas de cabelo e dos achismos de quem não te nutre é libertador como um longo banho. Meiga, querida, simpática ou um tanque de guerra? Não sei onde me enquadro. Sou muito otimista, acho tudo lindo e que sempre vai dar certo. Já tive quem dependesse de mim e quis ser reconhecida, e antes mesmo de tomar o primeiro gole daquela água gelada, de onde menos se espera vem o reconhecimento.
E o que dizer dos “nãos” e dos “eu não quero”? De assumir duas fatias de pudim, de trocar a balada por ‘solitudes’ plenas, por amor escolhido e acolhido, de dizer eu te amo sem pudor? Porque o segredo de ser imperfeita é aceitar a coragem de acordar e ir todos os dias e viver, comer, correr e amar intensamente as surpresas. Seja o bom dia de um homem lindo ruivo como raio de sol, como o “boa noite linda!” dele todas as noites pelo simples ‘likes’ nas suas fotos. Interprete como quiser, você é livre!
Sim, tenho a coragem de gostar de música sertaneja, da cor amarela, dos palavrões e dos biquínis que insistem em ser pequenos demais todo o novo verão. Ah o verão, como é bom quando continua por outras estações, permitindo-me ser diariamente mais autêntica, complicada e imperfeitinha. E sobre o poder? Sim, ele me chama.
Se sou vulnerável, não sei – mas escolho minhas batalhas e as demais deixo pra lá, acho que grito demais. Costumo dizer que fecho a porta e penduro a chave ao lado dela, daí escolho quando abri-la novamente.
Incrível como realmente respirar ou esperar o outro dia para todas as decisões (ou falar algo importante para alguém) traz tranquilidade e segurança E, para isso também é necessário ter coragem. Muita coragem, mesmo que por algumas horas me vejam vulnerável… Então, desejo muita coragem para aqueles que acham que minha vulnerabilidade é a falta a dela, lembrando sempre da sensação do gole de água gelada num dia de calor.